Detox de Primavera


23 Março 2022

Chega a Primavera, tempo de crescimento e renovação, e também nós sentimos vontade de acordar para o mundo. Por esta altura, os ginásios começam a encher e multiplicam-se aquelas promessas do “perca peso em 10 dias”. Começamos a acusar a pressão. Afinal, o Verão está quase aí e toda a gente quer andar no seu melhor. Mas a que preço?

É mesmo preciso fazer dietas “malucas”, beber só sumos e batidos ou jejuar para limparmos o nosso organismo? Claro que não. Desde logo porque o nosso corpo está desenhado para se desintoxicar a ele próprio, diariamente, sem a ajuda de poções mágicas. O problema não está nele. Está no que consumimos e na forma como o fazemos, que tantas vezes dificulta esse trabalho de desintoxicação.

O ser humano existe há muitos milhares de anos, mas nunca viveu num mundo que tanto lhe dificulta esse trabalho como aquele em que vive hoje. Vivemos expostos a um cocktail de químicos, que estão presentes na nossa comida, nas nossas roupas, na nossa mobília, nos brinquedos com que as nossas crianças brincam, nos cosméticos que pomos na cara e no corpo, e nos detergentes com que limpamos a casa. Claro que a sua utilidade é, de forma geral, inquestionável. O problema é o seu impacto na saúde e no ambiente.

De acordo com os dados do Eurostat, relativos a 2020, são consumidos na União Europeia cerca de 230 milhões de toneladas de substâncias químicas com riscos para a saúde. Segundo a Agência Ambiental Europeia (EEA, na sigla em inglês), estes produtos são responsáveis por 6% da taxa de incidência de doenças a nível mundial – incluindo doenças crónicas e neurológicas, cancros e perturbações de desenvolvimento –  e por 8% da taxa de mortalidade. Mas estes números serão certamente superiores, visto que os estudos existentes incidem apenas sobre uma pequena parte dos químicos no mercado e só estudam os efeitos individuais de determinada substância, e não o risco da exposição simultânea a várias.

Uma das principais preocupações neste domínio são os chamados “disruptores endócrinos”, químicos que afectam o funcionamento do nosso sistema hormonal e interferem com a capacidade de metabolizar a gordura. A exposição a eles pode desencadear vários problemas de saúde, como perturbações de desenvolvimento, obesidade, diabetes, infertilidade masculina e mortalidade associada a níveis reduzidos de testosterona. Segundo a EEA, há cerca de 800 substâncias suspeitas de serem disruptores endócrinos, e que estão presentes em produtos do dia-a-dia, como latas de comida, plásticos, pesticidas, alimentos e cosméticos.

Sinais de alerta

Há vários órgãos envolvidos no processo de desintoxicação do nosso corpo. Fígado, rins, vesícula biliar, pulmões, intestinos e até a pele, todos eles trabalham em equipa para assegurar que as toxinas são transformadas em compostos menos perigosos e que são depois excretadas ou libertadas.

Portanto, a primeira questão é saber se o nosso organismo está ou não a precisar de uma “mãozinha” neste processo. Estes são alguns dos sintomas a que deve estar atento:

– Dores de cabeça

– Cansaço, falta de energia, dificuldade de concentração

– Dificuldade em adormecer ou acordar consistentemente entre as 2 e as 4 da manhã (e, sobretudo, acordar com calor)

– Retenção de líquidos e/ou sensação de pernas cansadas

– Problemas de pele (acne, erupções cutâneas, eczema)

– Olhos vermelhos, secos ou irritados

– Ataques repentinos de fome

– Síndrome pré-menstrual e/ou menstruação irregular 

– Problemas digestivos e intestinais (inchaço abdominal, flatulência, prisão de ventre ou diarreia)

– Aumento da gordura corporal

– Celulite

– Problemas de humor (nervosismo, irritação)

– Mau hálito e/ou suor com cheiro desagradável

– Cabelo fraco ou queda de cabelo

– Falta de apetite sexual

Claro que muitos destes sintomas podem ter origem noutras causas, desde logo de ordem mais emocional. A boa notícia é que o detox que lhe proponho também vai ajudar a esse nível. E não envolve passar semanas a beber sumos e batidos, nem passar fome.