Já todos sabemos: o exercício físico faz maravilhas à nossa saúde física, mental e emocional. É uma peça essencial neste puzzle de como ter uma vida saudável. Então por que é tão difícil comprometermo-nos com algo que só nos faz bem? O segredo para criarmos uma boa rotina de actividade física, que conseguimos manter nos bons e nos maus momentos, não é força de vontade, tempo ou dinheiro. O segredo é fazer tábua rasa e começar pelo princípio: ouvir o nosso corpo, identificar o ele quer e necessita. O exercício físico tem de se ajustar a nós, não somos nós que temos de nos ajustar a ele.
Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos a 2019, mostram que quase dois terços dos portugueses não praticam qualquer actividade física. A nível mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde, poderiam evitar-se até cinco milhões de mortes por ano apenas com um aumento do exercício físico. Os números são alarmantes mas, infelizmente, não parecem ser suficientes para nos convencer a sair do sofá.
Para muitas pessoas, é difícil ultrapassar a crença de que não gostam de fazer exercício, nem nunca vão gostar. Outras até gostam, mas ou não sabem bem do quê ou têm dificuldade em incorporá-lo no seu dia-a-dia. São aquelas que se inscrevem no ginásio e vão activamente durante umas semanas, mas depois perdem o entusiasmo e a única coisa que vêm a mexer é os cifrões que saem da conta todos os meses. Já fiz parte dos dois grupos. Como dar a volta a isto? Como criar uma rotina que seja fácil de manter e nos permita retirar todos os benefícios que a actividade física traz para a nossa saúde? É isso que vamos ver, passo a passo.
1 – Escolher o exercício certo
Se encara a actividade física como um sacrifício ou um item da sua extensa lista de afazeres, talvez não esteja a dar ao seu corpo o tipo de exercício que ele realmente quer e precisa.
Quantas vezes já disse ou já ouviu alguém dizer: “eu não gosto de ir ao ginásio, mas tem de ser”. Tem de ser porquê? A menos que seja um atleta de alta competição ou um bodybuilder, há alguma razão para se submeter ao lema “no pain, no gain” (“sem dor, não há ganhos”)? Muitas vezes, somos empurrados para o ginásio ou para outra actividade física porque “é o que toda a gente faz”. Logo: “se eu não consigo, o problema é meu, eu é que sou preguiçosa ou tenho falta de força de vontade”. Não. Simplesmente, o ginásio pode ser não ser o sítio certo para si.
Já tive várias clientes que me diziam que gostavam mesmo era de ter aulas de boxe, ou de equitação, ou yoga, ou ténis. E, no entanto, estavam inscritas em ginásios onde raramente iam. Tendemos a escolher o que parece mais simples, mais conveniente, mais acessível, às vezes mais económico também. Mas não valerá mais a pena investir – tempo, dinheiro, energia – em actividades de que realmente gostamos e nos entusiasmam?
Encare o exercício físico como um investimento, como se estivesse à procura de uma casa para comprar. Não vai ficar logo na primeira opção, só porque é mais fácil e conveniente, pois não? Provavelmente, vai procurar exaustivamente até encontrar algo que encaixe no seu perfil, que corresponda aos seus objectivos e no qual se imagine a viver, se não para sempre, pelo menos durante algum tempo. Faça o mesmo quando escolher a sua actividade física.
Para perceber qual o exercício mais adequado para si, use este guia:
1.1 – Pense no que gostava de fazer em criança
Gostava de dançar, andar de bicicleta, nadar? Este pode ser um bom ponto de partida para escolher o seu tipo de exercício físico, se não tem a mínima ideia por onde começar.
1.2 – Experimente várias opções
Nada como experimentar para perceber o que realmente gosta. Tem curiosidade no yoga ou no surf? Faça uma ou duas aulas. Às novas actividades que descobrir, junte aquelas que já sabe que gosta (por exemplo, caminhar ou correr). Assim tem um leque de opções à disposição.
1.3 – Escolha algo adequado à sua personalidade
Alguns exemplos:
– Se tem uma personalidade mais preponderante e competitiva, os desportos de competição vão trazer-lhe o desafio e a energia que precisa (ex: futebol, ténis, corrida, etc).
– Para quem gosta de estar rodeado de pessoas, e fazer do exercício físico um momento de interacção e diversão, que tal experimentar aulas de grupo num ginásio ou aulas de dança?
– Pelo contrário, se não gosta de multidões, pode preferir treinar sozinho, seja no ginásio ou em casa (há imensas apps e canais de youtube à disposição). Pode também treinar acompanhado por um personal trainer.
– Quem procura no exercício físico uma forma de parar e relaxar, pode preferir aulas de yoga ou pilates.
– Quem odeie fazer exercício num espaço fechado, só tem uma solução: sair para a rua. Pode fazer caminhadas, correr, fazer yoga no jardim (ou num terraço ou varanda, se tiver), experimentar surf ou bodyboard, ténis ou paddle, inscrever-se em grupos de caminhadas aos fins-de-semana…
1.4 – Quando sente mais energia?
Algumas pessoas têm mais energia de manhã, enquanto outras estão mais activas à tarde. Ajuste o horário do seu exercício físico em função disso. Não há uma altura certa ou errada para mexer o corpo. Mais uma vez, é uma questão de experimentar, e perceber como se sente melhor.