Hoje comemora-se o Dia Internacional Sem Dieta. Confesso que me irrita um bocadinho esta mania de haver dias internacionais para tudo e mais alguma coisa, mas este tem para mim um significado especial. Conhecido como o “International No Diet Day”, nasceu em 1992 pelas mãos da britânica Mary Evans Young que, depois de ter tido anorexia nervosa, iniciou uma luta contra a indústria das dietas. O objectivo deste dia é celebrar a aceitação do nosso corpo tal como ele é, a libertação das dietas restritivas e da obsessão por um modelo de corpo perfeito.
Viver a contar calorias, em permanente controlo e restrição, ou criar metas irrealistas e, no caminho, acabar a prejudicar a nossa saúde e bem-estar – creio que todos concordamos que isto não faz sentido. Então por que é a indústria das dietas continua a mover milhões? Por que é que é preciso existir um Dia Internacional Sem Dieta?
Tendemos a procurar poções mágicas. Ora é a dieta dos 10 dias, ora a dos sumos detox, ora a dieta do jejum intermitente. As redes sociais amplificam estas modas e contribuem para converter a nossa relação com a comida num processo frustrante e obsessivo. Vivemos a experimentar dieta atrás de dieta, a “pôr” e a “tirar” alimentos (geralmente mais a tirar que a pôr) e, invariavelmente, acabamos por não chegar a lado nenhum. Como saber quando dizer basta?
Se a nossa relação com a alimentação nos faz sentir frequentemente:
- Ansiedade
- Sentimento de derrota
- Culpa
- Arrependimento
- Preocupação excessiva com o que comemos
- Qualquer outro sentimento negativo que nos faz sentir mal
E se as dietas nos fazem:
- Ter recaídas atrás de recaídas
- Tornarmo-nos obsessivos (ou até compulsivos) com a comida
- Restringir constantemente alimentos ou grupos alimentares
- Seguir a abordagem “ou tudo ou nada” (e geralmente acabar no “nada”)
Então está na hora de mudar de rumo e procurar outro caminho.
Isso não quer dizer que uma dieta de perda de peso (para quem realmente precise) não faça sentido. Claro que faz, mas o objectivo final de qualquer plano alimentar deverá ser deixar de ter plano alimentar, ou seja, produzir uma mudança real e sustentável nos hábitos alimentares.
Ter uma alimentação saudável é, antes de mais, ter uma relação saudável com a comida. Quem a tem não sabe necessariamente o que vai comer, a todas as horas, de todos os dias. Não existe alimentação perfeita, existe alimentação saudável. Neste artigo, falo de seis estratégias para a conseguirmos ter (e manter).
1 – Analise o seu ponto de partida
No que toca a ter uma alimentação saudável, em que ponto se encontra? E qual o “jogo” que está disposto a jogar? Tendo em conta os seus objectivos e contexto, o que é mesmo realista? E, sobretudo, por que é que quer mudar? É fundamental ter estas questões bem presentes quando nos propomos mudar os nossos hábitos alimentares.
Comece por analisar cada uma das suas refeições e identificar o que podia melhorar. Todas elas precisam de ser melhoradas ou há umas mais que outras? O problema são as refeições principais ou são aqueles snacks e petiscos ao longo do dia? Usar um diário alimentar pode ser um instrumento útil, ajudando-nos a tomar consciência do que realmente comemos.
Analise qual o seu contexto. Se está numa fase com muito trabalho e stress, será realista querer entrar numa dieta que o vai obrigar a bastante planeamento e contenção? Questione também até onde está disposto a ir. Todos queremos ter um “six-pack” mas, excepto para algumas almas geneticamente abençoadas, isso implica bastantes sacrifícios, não só alimentares, mas também de tempo (gasto a planear e confeccionar refeições e em exercício físico). Está mesmo disposto a fazê-los?
Finalmente, identifique bem o seu porquê. Por que é que quer mudar a sua alimentação? Não se fique pelo “quero perder peso” ou “ter menos X quilos” ou “ficar mais fit”. As verdadeiras razões tendem a ser mais profundas: mais auto-estima, mais energia no dia-a-dia, mais saúde para vermos os nossos filhos crescer… Perceber o verdadeiro porquê é essencial para que se mantenha realmente focado na sua missão.
Ao mesmo tempo, questione esse porquê. A sua auto-estima está assim tão dependente de ter menos X quilos? Ou depende mais de outros factores que não está a considerar? Tente afastar ideias pré-concebidas deste processo: os seus ojectivos são realmente seus ou são auto-impostos para corresponder a um determinado ideal ou padrão, por vezes irrealista?
2 – Dê um passo de cada vez
Muitas dietas obrigam a mudar a forma como comemos toda de uma assentada, o que se torna frequentemente difícil e desmotivador. Se não se sente preparado para dar esse passo, ou se já tentou e não resultou, que tal experimentar outra abordagem? Comece apenas por pequenas mudanças e melhorias naquilo que come. Em vez de criar uma divisão na sua cabeça de bons e maus alimentos, ou alimentos proibidos e permitidos, use outro critério: a qualidade da comida. Encare isto como um jogo: o objectivo é tornar cada refeição apenas “um bocadinho” melhor.
Por exemplo, se o seu pequeno-almoço é café e pão branco com manteiga, que tal experimentar mudar para pão integral? Se não come vegetais às refeições principais, que tal adicionar uma salada ou uma sopa a uma delas? Claro que o jogo vai ser diferente consoante o nível em que já esteja. E o seu progresso vai depender daquilo que quer, do que precisa e do que consegue realmente concretizar, em cada momento.
O ideal é começar por mudar uma refeição de cada vez e, assim que aquele hábito estiver consolidado, passar ao seguinte. Estas mudanças podem ter a ver com aspectos tão simples como:
- Adicionar proteína
- Adicionar vegetais e/ou fruta
- Substituir cereais refinados por integrais
- Evitar alimentos altamente processados (como o fast-food)
- Beber menos álcool ou refrigerantes
- Beber mais água
Dê um passo de cada vez, por mais lento que possa parecer. Sabe a história da lebre e da tartaruga? Quem ganhou no fim? Pois…